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sexta-feira, 17 de maio de 2013

OS SONS DO SILÊNCIO



        " Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande mestre com o objetivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa.
         Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou para uma floresta. 
Ele deveria voltar depois de um determinado tempo, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta.
         Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir.
Então, disse o príncipe:
_ Mestre: pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus...
E ao terminar de ouvir o relato do príncipe, o mestre pediu-lhe que retornasse à floresta para ouvir tudo o mais que fosse possível.
Apesar de intrigado o príncipe o obedeceu, pensando: Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta...
Por dias e noites, novamente, ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... Mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre. 
Porém, certa manhã começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes.
E quanto mais prestava atenção, os sons mais claros se tornavam.
 Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Pensou: Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse...
E, sem pressa ficou ali ouvindo, ouvindo pacientemente. Queria ter certeza de que estava no caminho certo.
Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir.
Respeitosamente o príncipe lhe disse:
_ Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite...
O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação e disse:
_ Quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, os seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor, entender o que está errado e atender as reais necessidades de cada um.  
A nossa morte começa quando ouvimos apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem nos atentarmos para o que se passa no interior das outras pessoas, a fim ouvirmos os seus sentimentos, desejos e opiniões reais.
É preciso, portanto, ouvir o lado inaudível das coisas, o lado não mensurado, mas que tem o seu valor, pois é o lado mais importante do ser humano".
(Do livro: Histórias da Tradição Sufi - editora Dervish)




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