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quarta-feira, 23 de abril de 2014

O MAU TAMBÉM PODE SER UM BOM AMIGO



    É possível que os maus sejam entre si prazenteiros, não enquanto maus ou nem bons nem maus, mas enquanto, por exemplo, ambos são músicos, ou um é melómano e o outro cantor; e enquanto todos têm algo de bom e nisto se harmonizam entre si poderão, ademais, ser reciprocamente úteis e prestáveis, não em sentido absoluto, mas em vista da sua escolha, ou enquanto não são nem bons nem maus.
   É igualmente possível a um homem de bem ter um amigo medíocre; cada qual pode, de fato, ser útil ao outro em vista da escolha, o medíocre pode apoiar utilmente o projeto do bom, e este último pode secundar com utilidade o projeto do incontinente e do mau em conformidade com a sua natureza; e desejará para o outro as coisas boas: em sentido absoluto as coisas absolutamente boas e, de modo condicional, os bens que são tais para aquele, enquanto o ajudam na pobreza ou nas enfermidades, e estes em vista dos bens absolutos: como, por exemplo, tomar um remédio; não o quer, de fato, por si mesmo, mas em vista deste fim determinado. 
     Além disso, [o bom pode ser amigo do medíocre] naqueles modos em que também os não bons seriam entre si amigos. 
Pode um, de fato, ser aprazível não enquanto mau, mas enquanto partilha uma das propriedades comuns, por exemplo, se é músico. 
Também enquanto em todos há algo de bom; por isso, alguns associam-se, inclusive, ao homem bom. 
Ou enquanto se acomodam a cada qual: todos têm, de fato, algo de bom. 

*Aristóteles, in 'Ética a Eudemo'.



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