CURANDO A CRIANÇA INTERIOR MAGOADA
Toda criatura pequena precisa de amor, carinho e estímulos. Qualquer cachorrinho constantemente escorraçado, chutado e maltratado se tornaria provavelmente uni cão esquivo e covarde - ou um animal feroz e traiçoeiro.
Sentimo-nos indignados perante essa situação, e pensamos que seu dono deveria merecer algum castigo, até mesmo ser eventualmente atacado pelo cachorro.
As pessoas sabem instintivamente que um filhote precisa de amor e estímulos positivos para se tornar um cão confiante, alerta e responsável.
Uma planta delicada precisa de cuidados e de um solo adequado. Precisa de irrigação, adubação e ser colocada no sol ou na sombra, de acordo com suas necessidades; alegramo-nos quando a muda reage aos cuidados, transformando-se numa planta saudável e florida.
Plantada em solo pobre, ou numa parte do jardim constantemente pisada, ela poderá morrer ou se tornar uma planta mirrada e desprovida de flores. Nunca ser possível saber como ela poderia ter se desenvolvido se tratada corretamente.
Acontece exatamente a mesma coisa com as crianças pequenas. Constantemente repreendidas, acusadas em relação a seus erros, ameaçadas, ridicularizadas, violentadas, exploradas e espancadas, o que podemos esperar delas?
Essa criança pode começar a evitar as pessoas. Não terá auto-confiança suficiente para acertar. Será um jovem tão confuso, timido e assustado, que evitará tentar qualquer coisa nova.
Sentar-se-á no fundo da classe e nunca conseguirá aprender nada. Não ousará confiar nos outros, nem na própria vida. Desiste de tudo.
Poderá também se rebelar, como o cão que rosna, late e morde, tornando-se grosseiro, provocador e agressivo.
Provavelmente deverá reagir dessas duas formas ao mesmo tempo.
Quando seu filho está aprendendo a andar, é normal que você o desanime, ridicularize e lhe (liga como ele é imbecil quando tropeça?
Claro que não. Você abre seus braços para abraçá-lo.
Você elogia cada passo. Você lhe diz que ele é inteligente. Fornece-lhe estímulos o tempo todo. Quando ele fica mais firme, você fica a seu lado e o socorre quando ele cai. Você o consola e o estimula a tentar novamente. Logo ele se sente bastante seguro para levantar sozinho e andar de novo, cada vez mais confiante.
Ele sorri radiante com o sucesso, e quando cai levanta-se rapidamente.
Aprende que apesar de fracassar muitas vezes, será sempre amado e aceito. Percebe que não há problemas em tentar e fracassar repetidamente, pode tentar de novo até conseguir.
Isto significa que aprendeu a confiar em si mesmo e nos outros. Ousa tentar coisas novas, sem temer fracassar. A vida é uma experiência de aprendizado. Para crescer, precisamos enfrentar o novo. Para evoluir, precisamos ousar e experimentar.
Costumamos ser muito severos em relação a nós mesmos. Não Percebemos que muitas vezes internalizamos o opressor e agimos como ele, e não sabemos até que ponto espancamos, punimos e agredimos nossa frágil e sensível criança interior.
Como você se trata? Maltrata e desestimula sua criança interior, desprezando-a e criticando-a? Remói suas fraquezas?
Ou você se elogia e auto-estimula? Costuma valorizar suas próprias qualidades? Confia em suas forças?
Quando nos desvalorizamos constantemente, estamos desestimulando nossa criança interior.
Suponhamos que você decida desistir de comer doces, ou de fumar cigarros, ou mudar algum hábito. Se fracassa, critica-se asperamente e se obriga a fazer melhor da próxima vez?
Sua criança interior pode estar se rebelando contra esta tirania - como o cachorro que se vira contra o dono, atacando-o. Ou então se sentir tão desestimulada e condenada ao fracasso que desiste de uma vez por todas.
De qualquer modo, a auto-severidade excessiva é inútil, pois torna a vida difícil e decepcionante.
Acalente sua criança interior. Ame a si próprio e aceite seus erros, encorajando-se para o futuro. Enalteça suas boas qualidades. Então você poderá crescer e se transformar numa linda pessoa.
Você poderá crescer e florescer da mesma maneira que a pequena planta bem cuidada, regada e adubada, ao invés de pisada.
Assim aconteceu com uma amiga minha, exímia jogadora de tênis. Normalmente ela jogava muito bem, mas quando fui vê-la jogar uma tarde, ela estava completamente fora de forma. Sua auto confiança estava muito abalada e ela não acertava na bola. Perdeu o primeiro set desastradamente.
Antes o início do segundo set, ela andou devagar até o fim da quadra e parou, como se estivesse profundamente concentrada. Descontraiu-se visivelmente, e seu desempenho no jogo foi melhorando progressivamente no decorrer da partida.
Depois do jogo, perguntei a eia como havia conseguido. Ela sorriu e disse: “apenas disse a mim mesma que continuaria sendo uma pessoa maravilhosa, mesmo perdendo a partida: lembrei a mim mesma que havia ganho inúmeras vezes, e que era uma excelente jogadora. Isto me ajudou a descontrair, e consegui jogar bem. Costuma funcionar sempre.”
Quando realmente amamos, aceitamos e estimulamos nossa criança interior, nunca prejudicamos a nós mesmos ou a qualquer outra pessoa. Quem magoa os outros são pessoas magoadas consigo mesmas.
Entretanto, alguns dinâmicos homens de negócios costumam reagir com desconfiança, quando lhes falo sobre sua criança Interior. A auto-indulgência difere muito do controle rígido que frequentemente impõem a si mesmos.
Um desses homens, Douglas, manifestava insegurança em relação a seus chefes e clientes, o que transparecia numa hesitação verbal. Isto é muito comum.
Trabalhamos juntos em duas sessões, e ele começou a se sentir muito mais seguro. Achei que ele precisava entrar em contato com sua criança interior, a qual jamais tivera permissão de se expressar livremente.
Quando lhe pedi para se Imaginar como criança, tudo o que conseguiu ver foi uma névoa. Tentamos mais algumas vezes, sem que nada acontecesse. Achei que ele estava bloqueando seu tratamento.
De repente a névoa se dissipou, e ele conseguiu se ver como criança - vulnerável, magoada e desprezada. Ele atraiu instintivamente o pequeno Douglas para seus braços, proporcionando-lhe consolo, estímulo e carinho, que tanto havia necessitado aos quatro anos de idade.
Prometeu tomar conta da criança, dizendo-lhe que tentaria entender como ela se sentia e que poderia confiar nele. Permitiu que a criança falasse e se expressasse livremente.
Ao abrir os olhos, estava deslumbrado. Sentiu que pela primeira vez na vida havia entrado em contato consigo mesmo.
Percebeu que na infância tinha sido tantas vezes admoestado para ficar quieto, que havia desistido do direito de expressar-se livremente. Sua criança reivindicou este direito durante o encontro.
Contou-me mais tarde que, ao se encontrar consigo mesmo, sentiu que acontecera uma incrível transformação em sua vida, ficando em paz desde então.
Muitas pessoas relatam terem sido muito amadas por seus pais numa infância maravilhosa (como sem dúvida aconteceu). Como adultos, não conseguem entender porquê se sentem doentes ou infelizes, ou magoadas e ressentidas com as mínimas coisas.
Frida era uma pessoa assim; uma viúva, que vinha de uma grande família com muitos irmãos e irmãs. Tinha vários filhos e netos, mas era desesperadamente possessiva.
Sentia ciúmes e raiva em relação a todos. Sentia-se abandonada, ignorada e desprezada. Costumava reclamar que ninguém se importava com ela.
Seu corpo protestava, criando todos os tipos de sintomas físicos. Havia me garantido ter sido amada por seus pais e por seus irmãos. Sessão após sessão, fomos removendo velhas camadas. Quando lhe pedi para imaginar- se uma criança, que havia perdido seu senso de identidade, de seu próprio valor e sua auto-confiança.
Viu-se aos cinco anos de idade: estava resmungando num canto. Perguntei a ela o que a garotinha queria, e ela balbuciou “eu não acredito nisso”. Fez-se uma longa pausa. Por fim ela suspirou. “Ela disse que queria ser amada. Sempre achei que tinha sido”.
Ao satisfazer as necessidades de amor da criança interior, Frida abriu os olhos e nó conversamos.
Frida era a filha mais velha. Quando completou cinco anos, sua mãe teve gêmeos. Como a garota “responsável”, Frida teve que tomar conta de seus vários irmãos, que a provocavam impiedosamente.
Ninguém a valorizava ou elogiava. Ela cresceu com a firme e profunda crença de que a única justificativa para sua existência era tomar conta dos outros. Não era de admirar que tinha tido tantos filhos, e que era tão possessiva com eles. Não era de admirar que ela se deixara abater. A independência de seus filhos destruía sua razão de viver...
Ela reproduzia constantemente o mesmo sentimento que experimentara aos cinco anos de idade. Precisava dar amor àquela criança interior, devolvendo-lhe a auto- estima e o respeito próprio.
Alguns anos atrás, conheci uma pessoa que realmente me irritava. Participávamos de um mesmo grupo de reuniões semanais, e eu não podia entender por que me sentia tão desconfortável na presença dela.
Então meditei sobre o problema. Consegui vê-la como criança, esperneando e gritando por ajuda, e conseguindo assim muita atenção dos outros.
Também como criança, eu parava e observava. Também desejava atenção desesperadamente. Entretanto, eu havia aprendido na infância que espernear e gritar faria com que eu fosse rejeitada, abafando assim esses meus sentimentos.
Eu estava sendo ignorada, mas não sabia como conseguir a atenção que desejava. Sentia-me então cheia de raiva e frustração interiores.
Percebi que era exatamente isso o que acontecia quando eu a encontrava no grupo. Do seu mesmo modo, ela gritava por atenção. e obtinha o que desejava.
Eu também queria gritar por atenção, mas devido a meu aprendizado na infância, controlava meus sentimentos, Eu havia sentido a mesma raiva e frustração de minha criança interior.
Fiquei assim consciente de que precisava fazer um trabalho intenso junto a minha criança interior: ela precisava de ajuda, para se sentir tão auto-confiante que e não precisasse exigir tanta atenção.
Minha criança interior também deveria aprender a solicitar a atenção de que precisava de um modo mais apropriado. Quando aceitei a lição recebida, aquela pessoa saiu de minha vida.
Se você sente depressão ou irritação em reuniões onde outras pessoas estão sempre chamando a atenção, procure examinar as necessidades de sua própria criança interior.
Sentimentos como frustração, irritação e depressão em relação a certas pessoas e em certas ocasiões estão tentando nos dizer que há algo dentro de nós que precisa ser analisado.
Essas pessoas e situações são nossos professores, que nos proporcionam boa oportunidade para que possamos aprender. O Universo sempre fornecerá professores para as matérias sobre as quais já estamos trabalhando ou precisamos começar a trabalhar interiormente.
Na época em que eu estava me divorciando, meu relacionamento com meus pais estava muito ruim. Sentia-me irada, magoada e desconfiada. Para mim, divórcio significava fracasso. Sentia ter falhado como mulher e como mãe. Sentia-me incompetente, rejeitada e mal amada.
Meus pais reavivavam todas as minhas feridas. Como eu não suportava a dor que sentia, afastei-me deles, deixando de visitá-los. Dizia a mim mesma que só iria vê-los quando me sentisse mais forte.
Encontrei então numa reunião de trabalho, uma pessoa parecidíssima com minha mãe. Representei a situação de minha vida e coloquei-a no papel de minha mãe. Senti dores atrozes no peito. Fui para casa sentindo-me muito mal. Durante a noite, senti que meu coração era revolvido com facas. Não dormi.
Na manhã seguinte uma amiga me telefonou, e contei a ela o que havia acontecido. Ela disse imediatamente:
“examine o que está acontecendo dentro dc você”. Eu tão fechei os olhos, concentrando-me sobre a dor no peito.
Vi em meu peito um alvo negro, atravessado por flechas pontiagudas. Comecei a removê-las uma por uma, mas era um processo lento e doloroso. Então agarrei um punhado de flechas. Ao puxar com violência, o alvo se abriu como se fosse uma dobradiça, e pude ver passos desaparecendo na escuridão.
Fui subindo cada vez mais, até chegar uniu corredor escuro. Novamente andei, meio perdida, durante muitos quilômetros, mas como havia uma luz no fim do túnel, eu sabia que estava seguindo na direção certa.
Num quartinho no fim do corredor encontrei uma pequena criança apavorada, que reconheci como minha mãe. Ela estava tão aterrorizada que atirava flechas ao seu redor, tentando afastar as pessoas.
Eu a chamei carinhosamente, até que ela parou. Dirigi-me a ela, abraçando-a e consolando-a. “Quando ela parou de chorar, eu a envolvi com uma luz rosada.
Nesse momento, tudo ficou negro. Então, vi o alvo tio céu, com luzes saindo dos buracos que eu fizera ao arrancar as flechas.
Ao abrir os olhos, a dor em meu peito havia passado, e eu tinha uma nova percepção sobre o que estava acontecendo no mundo Interior da minha mãe.
Estresse, tensão, ansiedade e todas as formas de medo, bem como raiva, ciúmes e mágoa resultam de sentimentos baseados no medo, sentido por nossa criança interior.
Quando você sentir mágoa ou raiva, visualize sua pequena criança interior e pesquise a base subjacente ao medo. Seria medo do fracasso, medo de rejeição ou medo de não corresponder às expectativas?
Seria medo de nunca conseguir satisfazer suas necessidades, ou de nunca ser ouvido? Fale com sua criança interior. Ouça- a. O que ela tem a dizer? Do que ela precisa?
Quando ela se sentir suficientemente segura para ser honesta, você irá se surpreender com o que eia vai lhe dizer a seu próprio respeito.
Tranquilize sua criança. Console-a e ame-a. Comecem a trabalhar juntas. É muito mais agradável e fácil percorrer o caminho da vida com uma criança feliz e cooperativa do que carregar alguém esperneando, gritando, protestando ou semi-morto: torna-se um peso a ser carregado ao longo da vida.
Ao dar ouvidos e respeitar sua criança interior, você estará respeitando a si mesmo, e o mundo também respeitará você.
Todas as suas características estarão trabalhando juntas, e você não se descuidará do respeito próprio, transmitindo ao mundo sua harmonia interior.
Pesquisado por dharmadhannyael
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