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sábado, 12 de outubro de 2013

A LENDA DO BEM E DO MAL



Era uma vez um reino em que havia dois príncipes irmãos. 
O rei, pai destes, desde o começo de suas infâncias sempre os levava junto a si para que conhecessem outras terras. 
Após se tornarem adultos, ambos costumavam lembrar-se destes momentos de proximidade com carinho. 
Porém apenas um destes príncipes era destinado a suceder o rei, enquanto o outro, mais jovem, embora gozasse da generosidade do irmão, sabia que haveria um momento em que precisaria curvar-se a ele, submetendo-se, e isso o consumia interiormente. 
Mesmo amando o irmão, não conseguia aceitar que um dia este seria maior que ele.
Aconteceu do pai morrer e nova coroação se sucedeu, de forma que o irmão mais velho passou a ocupar o palácio que antes fora de seu pai. 
Além disso o novo rei havia se casado com uma bela e virtuosa esposa. Já nos anos iniciais de seu reinado nasceram três filhos e o reino prosseguia cada vez mais próspero.
O irmão invejoso, embora contasse com um importante título de nobreza e continuasse tendo livre acesso à corte, consumia-se ainda mais em sua inveja, até que esta igualou e superou o amor que tinha pelo novo rei, seu irmão. 
Não havia se casado, não tinha filhos, e toda a alegria que o rei percebia tornava ainda mais negra a sombra que existia em seu coração, ocultando cada vez mais a luz dentro de si, até que esta tornou-se imperceptível.
Há muito tempo dominava a arte da magia negra à qual se dedicava em segredo, impulsionado pelos sentimentos malévolos que não conseguia conter dentro de si. 
A princípio, quando começou a enveredar-se por esta arte, julgava ser por mera curiosidade, mas então começou a vislumbrar possibilidades práticas em que poderia utilizá-la contra seu próprio irmão.
Elaborou então, cuidadosamente, os detalhes do ritual que utilizaria. 
Não lhe foi difícil ter acesso aos objetos pessoais do rei para que pudesse criar um feitiço, pois contava com sua confiança. 
O essencial para que a maldição fosse completa seria que, no momento que estivesse rogada, o fosse com o desejo mais negro. 
Assim escondido, durante a noite, deu início à sua vingança amaldiçoando o irmão.
No entanto, durante o ato negro, a pequena luz que existia ainda dentro de seu coração fez-se revelar, mesmo que tênue. Pensou: “Tudo que meu irmão criou é tão belo. 
Quero possuir esta beleza.” e então envergonhou-se, pensando “Que jamais eu, ou qualquer outra pessoa, possa destruir a beleza que meu irmão criou.”, e as trevas voltaram a seus pensamentos. O resultado do ato praticado não seria imediato. 
De fato, um ano inteiro deveria se passar para que seu intento começasse a se realizar.
Passado um ano, o rei estava então ocupado ensinando seus filhos a plantar novas sementes dentro de uma estufa recém construída. Estava entretido e feliz. 
O dia inteiro havia dedicado a assuntos que sua posição exigia e o único tempo que havia encontrado para dedicar-se aos filhos foi durante a noite. 
Mas não se importava. Este tipo de dedicação não lhe cansava. Foi quando o teto da estufa desabou, de forma que o rei ficou preso entre os escombros. Não estava ferido e seus filhos estavam a salvo, mas sentia a massa ainda úmida da construção em contato com seu rosto, com seu tronco e com seus braços. 
Três dias foram necessários para tirá-lo dali. Enfim solto, percebeu a massa irremediavelmente presa à própria pele. Não havia como removê-la sem retirar a pele. Sua aparência seria, desde então, monstruosa.
O irmão mais novo regozijava-se com o infortúnio do rei pois sabia o que se seguiria. Com o passar do tempo a rainha, mesmo sendo virtuosa, não conseguia mais encarar seu próprio marido. O mesmo aconteceu com os filhos.
O rei, em desespero, abandonou seu próprio reinado e passou a andar pelas ruas disfarçado como mendigo. 
Como havia desaparecido, o irmão o substituiu no castelo, seduzindo a rainha e ganhando até mesmo a confiança dos novos príncipes.
Enquanto isso a luz no coração do rei diminuia devido a amargura que sentia dentro de si, ao ver seu irmão ao lado da rainha e de seus filhos. O ódio começou a consumi-lo. Mas o feitiço do irmão invejoso não havia sido perfeito: “Que jamais eu, ou qualquer outra pessoa, possa destruir a beleza que meu irmão criou.”. 
Ora, esta beleza começava exatamente no coração do rei. Tudo o que havia criado era fruto de seus sentimentos, os quais foram nutridos carinhosamente. 
Naquele momento seu coração estava tornando-se negro.
Era noite e a estufa que havia desabado continuava inalterada. 
As sementes que haviam sido plantadas estavam germinando e crescendo, revelando-se além do solo. A pouca água que havia disponível tinha sido o suficiente para conceder-lhes vida. 
Naquele mesmo momento a massa presa à pele do rei começou a desprender-se e uma nova esperança preencheu seu coração. 
Voltou ao castelo, mesmo em andrajos. Ainda assim todos o reconheceram. A rainha, arrependida, acolheu-o chorando, da mesma forma que seus filhos. 
O rei perdoou verdadeiramente a toda sua família.
O irmão invejoso, envergonhado, fugiu. 
Somente isto era motivo de tristeza ao rei. 
Porém, consumido pela culpa, o irmão retornou e confessou o mal que havia causado. 
O rei, percebendo a dor no coração do irmão o perdoou, também verdadeiramente. 
O perdão foi tão pleno que o mal praticado foi totalmente esquecido.
Esta é a lenda do bem e do mal. Infelizmente como o mal foi esquecido, este sempre retorna de tempos em tempos, mas a luz do bem jamais é extinta por completo.

Fica aqui uma reflexão. 
O bem e o mal existem no coração de todos os seres humanos.
Não existem seres do bem, nem seres do mal. 
Existe apenas uma dinâmica que sempre se repete.

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