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quarta-feira, 21 de outubro de 2015
QUEM É QUE NOS ESPERA?
Nada existe a não ser momentaneamente, em sua forma e cor presentes.
Uma coisa se transforma em outra e não pode ser detida.
Antes que a chuva pare ouvimos o trinar de um pássaro.
Mesmo sob o peso da neve vemos campânulas brancas e alguns rebentos.
Já vi ruibarbos no Leste. No Japão, comemos pepino na primavera. - Shunryu Suzuki
É uma história enrolada a que vivemos. Contamos com poucas referências, e o caminho – a areia lúbrica – revela-se nebuloso.
Mas não vou registrar agora nenhuma nota longa.
Vou apenas lhes dizer que podemos avançar sem desviar o rosto, procurando validar as inspirações que nos chegam ao amanhecer, quando nos pomos de pé para o café, no próprio ato de preparar o café e receber o dia.
Colocar-se com atenção no desjejum para intuir que o dia nos oferecerá um mínimo para nos guiar em meio ao caos que está a parir a nova ordem, na qual as pessoas se ajudarão sem temor ou cálculos matemáticos descarados (ou camuflados), só o farão por gentileza e solidariedade.
E por isso, felizmente um dia, os maus e as ditaduras, domésticas e públicas, serão folhas secas que estalam e estarão a correr, junto de um arroio, os inúmeros que fazem os caminhos.
As vidas seguirão em paz, pois não existirão os sicários do medo para paralisar a leveza de uma mulher no Irã, nem chocar a alegria de um menino africano vivente em Hamburgo.
Por enquanto, indubitavelmente, algumas minorias, distribuídas em uma maioria morna, estão metidas com compaixão e serviço, vocês me dirão.
E por isso reagimos, frente a essas minorias, como se alguém falasse de um manual escasso de (suave) comportamento.
Amigo ou amiga, quem é que nos espera?
É o anoitecer ainda. Mas vamos continuar no mundo.
Há muita gente dormindo e não podemos despertá-las.
Entretanto, não percamos a oportunidade de fazer um poema na travessia, porque não somos desertores.
É isso o que somos, penso: viajantes muito dispostos a passar o tempo fatigando o corpo para iluminar os sentidos, e, de um jeito muito próprio, realizar a natureza copiosamente do caminho e, por amor tão fundo em nossas almas, que mal respiramos, o mistério luminoso no coração intacto.
E do caos já partimos para o Novo Mundo.
* Eugênia Pickina.
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