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terça-feira, 12 de julho de 2016
E O BRASIL É MESMO A PÁTRIA DO EVANGELHO?
Um dia desses fui a uma casa espírita assistir à reunião pública. Um homem de modos elegantes e postura professoral assumiu a tribuna e iniciou seu discurso com a pergunta título deste artigo. Acomodei-me melhor e agucei os ouvidos e os sentidos para ouvir o que tinha a nos dizer.
Ao meu lado muitos irmãos e irmãs. Acredito que grande parte deles e delas ali estavam de passagem, tentando um contato “promissor” com a doutrina espírita, como quem busca aqui e acolá um nicho, um enredo, um lugar para ficar. Já sou antigo no Espiritismo. Já nasci cultuando os fundamentos dessa doutrina iluminada por mentes conscientes que a postularam. Ao meu lado, contudo, estava um senhor de tez morena e olhar circunspecto. Parecia vir de longe, das estradas empoeiradas da vida e, de repente, uma porta se abriu: a porta de um centro espírita!
O homem da tribuna iniciou seu discurso em tom de sábio. Falaria sobre o Brasil.
“Brasil... Ah! Brasil...” Foi assim que deu as primeiras notas da sua melodia composta por acordes de uma nota só. E derramou sobre nós uma série de incongruências e até chamou Humberto de Campos e Chico Xavier de visionários e distantes da realidade nacional. “O Brasil é um pobre peregrino dentre nações gigantescas e ricas!” – disse o anunciador de tristezas, apagador de lampiões.
Ah! que vontade de sair dali e entrar em uma biblioteca e ler Humberto de Campos através do nosso querido Chico Xavier. Quem de nós está em condições de avaliar tais obras?
O homem ao meu lado mexeu-se de um lado para o outro e sussurrou-me: “Mas eu amo minha pátria. Ela é rica em reservas!” E foi aí que me fiz porta-voz do livro Brasil Coração do Mundo e Pátria do Evangelho e lhe disse: “As reservas brasileiras não se circunscrevem ao mundo de aço do progresso material, mas se estendem infinitamente ao mundo do ouro dos corações, onde o país escreverá a sua epopeia de realizações morais, em favor do mundo”. O homem me olhou e eu concluí: “Escreverá do verbo: vai escrever e para tal se prepara. O Brasil é menino de quinhentos e poucos anos e querem que ele seja adulto, senhor das suas ações, enquanto ainda se prepara para ela”.
Um dia, ouvindo outro orador, apóstolo deste país, anotei sua fala: “Analisemos: trezentos e vinte e dois anos de colônia, sessenta e sete de monarquia e cento e vinte e sete de república com ditaduras e impeachment. Foi e está sendo um caminho árduo. Sabendo-se ainda que o período colonial foi o de intensa exploração das nossas jazidas. E ainda querem uma nação amadurecida?
Ora, viajemos pelo país e encontraremos progressos sobre progressos, realizados de formas muitas vezes hercúleas e à custa de suor e lágrimas. As cátedras nem sempre oferecem o comboio que sai para ver e sentir o lado de fora das teorias basais”. E aquele orador do momento, sem dúvida, era um teórico.
O homem ao lado me cutucou e pediu: “Fale mais”. Então continuei, repetindo Humberto de Campos: “Qual o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo por mais recônditas que sejam, pairam as bênçãos de Deus, convertida na luz e no pão de todas as criaturas”. – O que me diz, senhor? – perguntou-me meu companheiro de jornada. Apenas repeti palavras de Jesus quando esteve no plano físico por volta de 1375 e buscava nicho para o Seu Evangelho – falei-lhe. Fechei meus olhos e relembrei o texto do livro que fala sobre o Brasil e psicografado por Humberto de Campos: – “Helil – perguntou Jesus –, onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário, do qual se enxerga, no infinito, o símbolo da redenção humana?” – “Este lugar de doces encantos, Mestre, de onde se veem, no mundo, as homenagens dos céus aos vossos martírios na Terra, fica mais para o Sul.
” E eles estavam no continente Americano.
Agora chegamos ao ponto-chave e que infelizmente aquele pregador se omitiu em sua eloquente conversa. Vejam a descrição de Humberto de Campos: “Mãos erguidas para o alto, como se invocasse a bênção do seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus: – Para essa terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os Povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial”. Noutro dia, num grupo de estudos, lemos em conjunto esta citação. As lágrimas de todos nós se fizeram abundantes. – É o Mestre dizendo! – falou uma senhora presente. – Sim, foi Jesus quem disse e o que os homens estão dizendo no hoje, principalmente certos espíritas distanciados da Gerência Divina de Jesus? Que o Brasil vai perder esta distinção por causa dos seus habitantes.
Mas quem determina reencarnações é o mundo espiritual. Ninguém renasceu aqui vindo numa nave espacial ou de paraquedas. Foram reencarnações planejadas para que aqui aportassem e realizassem o bem em si, ajudando a pátria. Mas ela não depende apenas dos homens. Há um projeto divino, há uma programação.
– “Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai.” É, o grande pregador se esqueceu de dizer que temos um mentor espiritual que recebeu de Jesus a determinação acima e ainda a bandeira branca com as insígnias: Deus, Cristo e Caridade. Caridade esta que não fazemos com a pátria quando a julgamos incapaz de produzir bons elementos que a conduzam. E há os que dela se ausentam sob o pretexto de buscar maiores ganhos e benefícios externos. Mas, em qual lugar do mundo de hoje há que não esteja vivendo a grande deflagração motivada pela mudança do ciclo planetário?
O indivíduo brasileiro foi forjado pela interação de europeus, africanos e ameríndios. Foram as interações singulares e multifacetadas entre esses indivíduos que guiaram nossa história e deram à nossa população seu caráter heterogêneo e diversificado – dizem nossos sociólogos. E lá vem o poeta anônimo e diz: “Esta gente, cujo rosto às vezes luminoso e outras vezes tosco, ora me lembra escravos ora me lembra reis”. Estamos fazendo coro com a poesia? Ou somos martelos e bigornas a macerar enquanto deveríamos forjar? De mim digo que o indivíduo brasileiro é aquele que pisa num solo fértil, que olha para um céu que tem o Cruzeiro do Sul, que olha para trás e vê que sua história começou há pouco mais de 500 anos, que inda não se constituiu como um ser político, capaz de exercer com propriedade seu direito na escolha de processos administrativos ideais. É um indivíduo quase sempre passional, herdeiro de uma cultura colonialista que lhe forjou caracteres de submissão e que agora tenta se libertar, mas, ainda sem um roteiro seguro.
É em síntese um indivíduo pronto a se constituir como elemento principal no contexto social, entendendo que, através dele, tudo se modifica para o bem ou para o mal.
Inicia assim seu processo de libertação dentro de uma pátria que ainda não sente que é sua.
*Guaraci de Lima Silveira.
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