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quinta-feira, 5 de março de 2015
SER E NÃO PARECER
Hilário Ribeiro, num dos seus admiráveis livrinhos didáticos, inseriu uma página eloquente cujo título é precisamente aquele que ora nos serve de epígrafe.
Trata-se duma gravura representando um menino, de cima duma mesa, que diz à sua mãe: “Veja como sou grande.
A mãe então retruca: Meu filho, tu não és, mas apenas parece grande, graças à altura desse móvel onde te achas: procure ser, e não parecer”.
Esta lição, que o emérito educador destina às crianças, é de toda a atualidade, mesmo para os adultos.
Observando a nossa sociedade, inserta num planeta de categoria inferior, ainda de expiações e provas, percebemos com grande facilidade que uma das manifestações mais intercorrentes do orgulho é a vaidade.
Algumas facetas mais comuns de sua manifestação poderiam ser destacadas, como apresentação pessoal exuberante, evidência de qualidades intelectuais, não poupando referências à própria pessoa, ou a algo que realiza; esforço em realçar dotes físicos, culturais ou sociais com notória antipatia provocada aos demais; intolerância para com aqueles cuja condição social ou intelectual é mais humilde; aspiração a cargos ou posições de destaque que acentuem referências respeitosas ou elogiosas à sua pessoa; não reconhecimento de sua própria culpabilidade nas situações de descontentamento diante dos infortúnios por que passa; obstrução mental na capacidade de se autoanalisar, não aceitando suas possíveis falhas ou erros, culpando vagamente a sorte, a infelicidade imerecida, o azar e, tantos outros aspectos de manifestação dessa mazela da alma.
A vaidade, em qualquer de suas formas de apresentação reflete, quase sempre, uma deformação de colocação do indivíduo, face aos valores pessoais que a sociedade estabeleceu.
A aparência, os gestos, o palavreado, quanto mais artificiais e exuberantes, mais chamam a atenção, e isso agrada ao intérprete, satisfazendo a sua vontade de ser “badalado”.
Porém, no íntimo, a criatura reflete, com todo esse comportamento, insegurança e acentuada carência de afeto, provenientes de muitos fatores desencadeados na infância e na adolescência.
Por outro lado, também há que ser destacado que, muitas vezes, a vaidade do homem é profunda, radica-se nos resfolhos recônditos do seu coração. É cruel, é feroz e sinistra em seus malefícios, cujos efeitos, por vezes, separam amigos, destroem povos e arruínam nações.
A vaidade do homem tem feito correr rios de sangue e torrentes de lágrimas, deixando rastros de inenarráveis tragédias.
O testemunho da história do passado e a do presente comprova a assertiva.
Em o Evangelho Segundo o Espiritismo, obra sistematizada por Allan Kardec, no capítulo V, “Bem-aventurados os Aflitos”, referindo-se às causas atuais das aflições, assim se reporta: “O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sua sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria”.
Desse modo, torna-se imperioso que façamos uma análise acurada para identificarmos o tamanho dessa mazela em nós, pois é certo que todos a temos em graus os mais diversos.
O vaidoso o é, muitas vezes, sem perceber, e vive desempenhando um personagem que escolheu.
Recordando os ensinamentos de nosso Mestre Jesus proferido no célebre Sermão da Montanha, quando disse: _ bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino de Deus _ lembraríamos que a soberba, sob seus vários aspectos, constitui a pedra de tropeço que embarga nossos passos na conquista dos bens imperecíveis consubstanciados no Reino de Deus.
O mundo admira o fausto, o luxo, a notoriedade, o exterior – numa palavra.
Mas, o verdadeiro valor está no interior do homem: está no seu caráter, nos seus sentimentos, na sua inteligência.
Não é a forma que encerra o valor; é o espírito, é a alma, o eu imortal, sede das faculdades e poderes cuja origem é divina.
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