Nietzsche, o amargurado filósofo alemão, ateu e pessimista, assinalou que o perdão egrégio é fraqueza moral, portanto, falta de caráter.
Generalizado o conceito sob expressões diferentes, o mesmo representa a mesquinhez dos sentimentos que aguardam vingança, que trabalham pela devolução do mal que, por acaso, lhe haja sucedido.
Esse comportamento, o do desforço, é muito mais um ato infeliz e vergonhoso, enquanto o perdão expressa a coragem e a grandeza espiritual de todo aquele que o oferta.
Assevera-se em concordância com a tese de que a justiça não pode ser desprezada e que, mediante o perdão, permanece o crime.
Quando, porém, o perdão é verdadeiro, não há qualquer impedimento para que a justiça prossiga no seu rumo.
O que ocorre é o ato de não ser feita pela vítima, armada de ira e de agitação, com sede de vingança.
Desde quando os latinos criaram a palavra justiça, apresentaram-na como uma dama que carrega uma balança e uma espada, respectivamente em cada mão, tendo os olhos vendados, significando a sua imparcialidade.
Na visão cristã, a simbologia da espada cede lugar à presença da misericórdia da educação do réu, do ensejo que lhe deve ser oferecido para a reabilitação.
A ninguém cabe tomá-la pelas mãos num esforço vingativo pelo sofrimento que lhe foi imposto, deixando às Leis Soberanas, às vezes representadas pelas humanas, o mister de realizarem os procedimentos compatíveis com o nível de elevação moral e intelectual da sociedade.
No Saltério inserto no Velho Testamento, encontramos os denominados salmos imprecatórios, em que os profetas clamavam por vingança, praguejavam e ameaçavam, dirigindo-se ao Deus dos exércitos.
Jesus, porém, veio substituir esse Vingador pelo Deus Todo Amor, rico de compaixão e de ternura, que deseja o desaparecimento do crime sem a extinção daquele que se lhe fez instrumento.
É nesse capítulo que se inserem o perdão e a esperança de felicidade.
A todos está destinada a plenitude, por mais danos as criaturas se façam a si mesmas, durante a trajetória carnal. Sempre encontrará à frente a oportunidade reparadora de renovação íntima e de crescimento espiritual.
Quando ocorre o perdão, não sucede a reconciliação que independe daquele que se oferece para não devolver o mal de que foi vítima.
A reconciliação será resultado do tempo, da anuência do outro, o verdugo que está acostumado à reataliação.
A esperança de que a vida sempre se encarrega de regularizar todos os incidentes e desaires deve constituir motivo de encorajamento para prosseguir-se na ação do bem.
Não te produzam receio as nuvens carregadas de tempestades, que danificam mas passam.
Tens compromisso com o amor.
Desarma-te dos melindres doentios e egoicos que sempre te colocam em posição de vítima, supondo que tudo negativo é dirigido a ti.
Rompe essa fragilidade moral em que te apoias e que utilizas para fugir na direção da tristeza, sempre que te suponhas não atendido, numa atitude psicológica infantil.
O teu próximo não te pode estimar, cuidar dos teus conflitos, que tens o dever de superar porque te pertencem.
O outro, aquele a quem exiges consideração e cuidados para contigo, também tem problemas e dificuldades que não te conta.
Fita o mar proceloso da existência e quando te sentires fragilizado, robustece-te na oração, ancorado na confiança da vitória. A desconfiança é nuvem que oculta a face da vitória.
Renasceste para o triunfo sobre ti mesmo e esse é um trabalho que somente poderá ser realizado por ti.
Não transfiras para os outros os teus demônios psicológicos, à espera sempre de mimos e aparências.
Cristão sem testemunhos é linda planta trabalhada em substância plástica, bela mas sem vida.
A esperança é bênção do céu para toda a existência.
Quando tudo esteja escasso e aparente infortúnio, a esperança é o anjo vigoroso e companheiro vigilante ao teu lado, emulando-te ao prosseguimento.
Mesmo que advenham situações penosas e muito aflitivas, considera que a vida física não é uma viagem idílica ao país do prazer, mas se trata de uma experiência iluminativa, que trabalha pela libertação do ser. Quando luz no seu íntimo a bênção da esperança, a vida exulta em plenitude.
Educando os instintos agressivos, desenvolve as emoções dignificadoras, de forma que se sobreponha sempre o sentimento de amor.
Em qualquer circunstância, especialmente naquelas que te parecem infelicitadoras, interroga-te como gostarias de ser tratado ou reconhecido pelo teu próximo, e faze conforme concluas.
A justiça não dilui a esperança, dá-lhe vigor, assim como o perdão também o faz.
O teu destino é construído pelo teu pensamento. Abandona o vício mental negativo, sórdido, vulgar e enriquece-te de beleza e de esperança.
Jesus, no último instante da Cruz, quando nada mais podia ser feito, suplicou:
Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito!
A sublime esperança das bênçãos transcendentais a que Ele fazia jus ficou na condição de última mensagem.
Entrega-te a Deus, Ele fará o que não esteja ao teu alcance, e mantém sempre a esperança como a segura companheira da tua existência.
*Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo P. Franco.
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