Maledicência é o ato de falar mal das pessoas.
Definição bem amena para um dos maiores flagelos da Humanidade.
É mais terrível que uma agressão física. Muito mais que o corpo, fere a dignidade humana, conspurca reputações, destrói existências.
Arma perigosa, está ao alcance de qualquer pessoa, em qualquer idade, e é muito fácil usá-la: basta ter um pouco de maldade no coração.
Tribunal corrupto, nele o réu está, invariavelmente, ausente.
É acusado, julgado e condenado, sem direito de defesa, sem contestação, sem misericórdia.
Ninguém está livre dela, nem mesmo os que se destacam na vida social pela sua capacidade de realização, no setor de suas atividades. Estes, ao contrário, são os mais visados.
Nada mais gratificante para o maledicente do que mostrar que “fulano não é tão bom como se pensa”.
Não se dá conta aquele que se compraz em criticar a vida alheia, que a maledicência é um ato de autofagia (condição do animal que se nutre da própria substância, que come o próprio corpo).
O maledicente pratica a autofagia moral.
A má palavra, o comentário desairoso contra alguém gera, no autor, um clima de desajuste íntimo, em que ele perde força psíquica e se autodestrói moralmente, envenenando-se com a própria maldade.
Por isso, pessoas que se comprazem nesse tipo de comportamento são sempre inquietas e infelizes.
E há os estudos de Psicologia que oferecem uma dimensão bem maior ao ensinamento evangélico.
Admitem hoje os psicólogos que tendemos a identificar com facilidade nos outros o que existe em abundância em nós. O mal que vemos em outrem é algo do mal que mora em nosso coração.
Por isso, as pessoas virtuosas, de sentimentos nobres, são incapazes de enxergar maldade no próximo.
É preciso, portanto, treinar a capacidade de enxergar o que as pessoas têm de bom, para que o Bem cresça em nós. O primeiro passo — difícil, mas indispensável — é eliminar a maledicência.
Um recurso valioso para isso é usar os três crivos, segundo velha lenda de origem desconhecida, que vários escritores atribuem a Sócrates, lembrada pelo Espírito Irmão X, psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Certa feita, um homem esbaforido achegou-se ao grande filósofo e sussurrou-lhe aos ouvidos:
– Escuta, Sócrates... Na condição de teu amigo, tenho alguma coisa de muito grave para dizer-te, em particular...
– Espera!... – ajuntou o sábio, prudente. — Já passaste o que me vais dizer pelos três crivos?
– Três crivos? – perguntou o visitante espantado.
– Sim, meu caro, três crivos. Observemos se a tua confidência passou por eles.
O primeiro é o crivo da verdade. Guardas absoluta certeza quanto àquilo que me pretendes comunicar?
– Bem – ponderou o interlocutor –, assegurar, mesmo, não posso... Mas ouvi dizer e... então...
– Exato. Decerto peneiraste o assunto pelo segundo crivo, o da bondade.
Ainda que não seja real o que julgas saber, será pelo menos bom o que me queres contar?
Hesitando, o homem replicou:
– Isso não... Muito pelo contrário...
– Ah! – tornou o sábio — então recorramos ao terceiro crivo, o da utilidade, e notemos o proveito do que tanto te aflige.
– Útil?!... – aduziu o visitante ainda mais agitado. — Útil não é...
– Bem – rematou o filósofo num sorriso –, se o que me tens a confiar não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema e não te preocupes com ele, já que de nada valem casos sem qualquer edificação para nós.
Irmão X termina a mensagem, comentando:
Aí está, meu amigo, a lição de Sócrates, em questões de maledicência.
Se pudermos aplicá-la, creio que teremos ganhado tempo e recursos preciosos para rearticular o serviço, refazer a paz, realizar o melhor e seguir para frente.
A fórmula é, realmente, muito boa.
Usá-la é favorecer nossa própria edificação. Jesus nos está convocando à gloriosa construção do Reino dos Céus em nossos corações.
Não percamos tempo com as excrescências da Terra.
* Richard Simonetti.
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