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sábado, 7 de março de 2015

DEUS ESTÁ DISTANTE DE NÓS?



Olhemos para os céus estrelados, de tempos em tempos. 
Usualmente, realizo este exercício reconfortante, que sempre me devolve a noção correta, tanto do esplendor mais absoluto da Criação, quanto também dos seus mistérios, ainda quase que completamente insondáveis pelo intelecto do homem reencarnado. Sobre estes mistérios, há também a percepção mais acertada do que seja Deus – a Inteligência Suprema –, que tudo fez dentro e fora de nós, desde sempre e para sempre, se assim nos é permitido expressar, de maneira ainda imperfeita, uma conceituação verbal insuficiente do que seja o Criador Supremo do Universo.

Somos demasiado pequenos para compreender e definir, com mero esforço de raciocínio, aquele que idealizou e realizou toda a imensidão da existência, na qual estamos conscientemente mergulhados. Não guardo esta pretensão. 

Todavia, sabe-se, segundo o que consta na Doutrina Espírita, acerca de se conhecer as causas através da análise dos seus efeitos.
 E deste modo, se nos detivermos com lucidez na verdade desta assertiva, compreenderemos, por percepção direta, que a Presença de Deus é imanente – e jamais, de forma alguma, acha-se distanciada de nós, em um passo que seja.

Deus é interação cotidiana

Percebo, nos contextos turbulentos da atualidade terrena, a humanidade demasiadamente mergulhada num condicionamento comportamental letárgico, a exemplo do que nos acontece quando estamos diante de um televisor. 

Acomodados confortavelmente em nossos sofás à noite, ou nos fins de semana, durante nosso descanso após as atividades diárias, nos abstraímos mentalmente de preocupações e da movimentação eletrizante do cotidiano para observar o que outros fazem ou interpretam!

Seja em documentários ou filmes, novelas ou seriados, nos jornais ou na programação de entretenimento, somente assistimos, impassíveis, à intensa movimentação alheia: jornalistas, atores, repórteres, cientistas ao redor do mundo – realizadores! 

Dedicamos, imperceptivelmente, horas e horas de nossos dias delegando a outrem o sabor incomparável da realização da vida. 
Da cocriação dos avanços da imensa engrenagem do mundo!
 E na duração deste tempo de pausa, em muitos casos prolongado demais, quando muito, elaboramos raciocínios; trocamos alguns comentários, nos divertimos ou nos distraímos. 
Mas, tenho comigo que esta atitude, sem que nos apercebamos, se estende muito, nesta era tecnológica de máquinas e de informática atrativa, ao ponto perigoso da hipnose. 
E que isto se expande, também, da maneira mais lamentável, para o território de nossas realizações pessoais e de nosso avanço evolutivo. 
Para a dinâmica de nossa percepção e interação com a mágica da maravilhosa realidade Divina – bem diante, dentro, e ao redor de nós. 
Porque, neste hábito de se delegar demasiado a outrem poder para a construção dos fatos dos nossos tempos, nos esquecemos do muito que nos caberia realizar, lançando mão de nossos talentos, capacidade e sensibilidade!

Somente assistimos e assistimos! Quando não, praticamos nossa parcela de compromisso com a cidadania, nos nossos variados trabalhos cotidianos para a manutenção do sustento, nosso e de nossos familiares. E nos contentamos com isso. 

Mas a Vida é muito mais do que a luta pelo sustento material.
 Esquecemos que a dádiva da existência, de nos acharmos presentes aqui e agora, com talentos talvez insuspeitados, não explorados, nos possibilita e nos convida a realizar muito além, em favor do mundo, dos nossos semelhantes, e de nós mesmos.

Vida é processo. É atividade, criatividade, é interatividade. E ainda que alguns argumentem que os avanços científicos da humanidade não podem ser, draconiana e definitivamente, rotulados como nocivos, dado que, ao modo da época em que vivemos, possibilitam uma melhoria inquestionável desta mesma interatividade tão necessária a um orbe globalizado, no entanto – e como de quase tudo pode-se dizer – há o pano de fundo inconveniente de que as facilidades desta mesma tecnologia produzem também letargia e inércia vital.

Sem embargo, milhares de pessoas se acostumam, não a fazer – mas a ver fazer. 

E se contentam, de forma muito inconveniente, com esta postura, que as embota e paralisa, e que em nada lhes acrescenta, num contexto de imenso e indefinido desperdício de possibilidades de melhoria para o próprio mundo, e de chances de realização própria.

Direto a Deus... 

Tempos atrás, um leitor, ao que se percebia revoltado com os rumos já percorridos exaustivamente em busca das verdades maiores da vida em várias religiões, me escreveu perguntando, mais ou menos nestes termos, por qual razão deveria sempre existir um intermediário entre o seu diálogo com Deus, ou com estas verdades importantes para todos nós, de vez que a história de nossos percursos, de modo algum, se confina numa vida terrena. 

Para trás, ou no presente, ou de futuro, seremos sempre. Em pleno campo evolutivo, na dinâmica da eternidade, portanto, somos compelidos a dialogar com os fatos ao redor e com os nossos próprios dilemas, em busca da solução dos mesmos que, e de modo algum, se oculta somente na dialética de um estágio na materialidade.

Olhamos para os céus, e constatamos. Há muito, mas muito mais além deste lindo planeta azul pairando na orquestração do infinito; e, sobretudo, além de nós, assim como nos percebemos, neste minuto atual da eternidade. 

Então – questionava o leitor – por qual razão nos prendermos, ou sermos condicionados a nos colocar em regime de dependência obrigatória, para com intermediários entre nós e esta majestosa dinâmica da Vida? 
Por qual razão sempre uma conta bancária, um padre, um intermediador dito "credenciado" entre a própria dignidade de participantes dos enredos da Criação, e o nosso mesmo Criador? O Autor da história, da qual somos todos protagonistas e cocriadores?

Por que, amigo leitor, nos conservarmos sentados diante do imenso televisor existencial, somente vendo, assistindo ao desempenho dos demais participantes que realizam, ousam, criam situações ou oportunidades, ou, em outros casos, interpretam histórias belas, inspiradoras como um conto de fadas, como somente o desempenho artístico consegue fazer e nos embevecer, oferecendo-nos, é verdade, alento e reconforto para a movimentação eletrizante do dia a dia? 

Mas, de nossa parte, por qual razão não transcendemos este papel de meros espectadores? Não experimentamos, nem criamos situações outras de interação com a Vida, com Deus, saindo em busca de respostas e de chances de compreensão e de ação mais acertadas, dentro dos enredos entrelaçados neste grande Mistério?

   *Christina Nunes.


                                                        

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