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sexta-feira, 15 de maio de 2015

PROMESSAS E PENITÊNCIAS



Desde as eras mais remotas, instituíram-se as oferendas para agradar a Deus e aos santos a fim de obter benefícios de ordem material. 
Tais atos, por exemplo, eram habituais no Templo de Jerusalém e, por sua inutilidade, foram objeto de censura do próprio Jesus. 
Por isso, a recomendação de que, antes de fazer a oferenda, deveríamos reconciliar-nos com o adversário.

A finalidade comercial de tais práticas é evidente. 

No Templo de Jerusalém só pessoas autorizadas podiam vender os animais ou objetos porque estes eram santificados. 
Semelhantemente, hoje em dia a venda de velas ou fitas nas diferentes religiões tem somente objetivo financeiro.

Observa-se que o pagamento da promessa quase sempre está condicionado ao benefício recebido. Depois que a moça arranja marido ou o jovem passa no vestibular é que ofertam ao santo as velas ou fazem as penitências. 

Primeiro o favor e depois o pagamento.

Se para nada se aproveita, que sentido pode ter para as divindades a despesa ou o sacrifício das pessoas? 

Poderíamos fazer uma trova dizendo: “A luz que ilumina a alma/é somente a da oração/porque a luz da vela acesa/só gera mais poluição.”


O Espiritismo traz-nos clareza sobre o assunto no Capítulo V de O Livro dos Espíritos, em Privações Voluntárias. Mortificações. A pergunta 720 é:
“São meritórias aos olhos de Deus as privações voluntárias com o objetivo de uma expiação igualmente voluntária?”
Resposta: “Fazei o bem ao vosso semelhante e mais mérito terás.”

Na questão 721, temos:
“É meritória, de qualquer ponto de vista, a vida de mortificações ascéticas que desde a mais remota antiguidade teve praticantes no seio de diversos povos?”
Resposta: “Procurai saber a quem ela aproveita e tereis a resposta. 

Se somente serve para quem a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o pretexto com que entendam de colori-la. 
Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a caridade cristã.”

A conclusão a que nos leva o Espiritismo é que o dinheiro gasto nas velas, nas fitas, nas flores, deveria ser gasto no pão para um faminto. 

A energia despendida para subir a escada de joelhos ou para a longa caminhada, às vezes com o flagelo de uma cruz nos ombros, deveria ser usada para ajudar alguém a erguer sua moradia, para cuidar de uma criança pobre, para levar um doente até o hospital. 
Essa energia tem seu gasto recompensado porque se fundamenta na caridade sem egoísmo e sem esperar retribuições.

No que concerne às autoflagelações que existem em muitas partes do mundo, quando o homem crucifica-se ou agride-se com chicotadas ou outros petrechos, sangrando suas costas, a questão 725 nos ensina:
“Pergunta: Que se deve pensar das mutilações operadas no corpo do homem ou dos animais?”
 Resposta: “A que propósito, semelhante questão? 

Ainda uma vez: perguntai sempre a vós mesmos se é útil aquilo de que porventura se trate. 
A Deus não pode agradar o que seja inútil e o que for nocivo Lhe será sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevem para ele a alma. Obedecendo-lhe a lei e não a violando é que podereis forrar-vos ao jugo da vossa matéria terrestre.”

Pensamos que basta apenas um pouco de bom senso para saber que as oferendas ou as penitências visando benefícios próprios não têm o menor sentido. 

Quanto às romarias ou procissões a locais santos, além do valor turístico e cultural outra finalidade não têm. 
Se para nos livrarmos dos pecados temos de ir a Santiago de Compostela, a Jerusalém ou Roma, a Fátima ou Lourdes, a Meca ou Medina, a grande maioria que é pobre neste planeta ficará sem acesso a esses benefícios. 
Quando o homem tem o coração aberto e se abriga na simplicidade e na solidariedade, Deus – e seus emissários – vem até ele, sem que precise viajar. A única viagem que deve fazer é para dentro de si mesmo, renovando-se na fé e acreditando que é filho dileto do Criador e merecedor de toda a Sua proteção. A sintonia com a divindade não se faz em lugares determinados, mas na intimidade do próprio coração.

Para reforçar o que dissemos, ainda em O Livro dos Espíritos, na questão 726, está dito que:
“Os sofrimentos voluntários para nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. Supões que se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre- humanos, como fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? 

Por que de preferência não trabalham pelo bem de seus semelhantes? Vistam o indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. 
Sofrer alguém voluntariamente, apenas para seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo.”


Para finalizar, dizemos que quem deseja progredir, que trabalhe e estude sempre e muito. 
Quem deseja ter felicidade, que modifique sua maneira de ser e de pensar.

Convém recordar a passagem da mãe que pediu ajuda ao preto velho para seu filho passar nos exames escolares. 

O bom homem mandou o seguinte recado: “Fala pro menino enfiar a cara nos livros, dia e noite, que preto velho vai ajudar.” Receita simples para o sucesso!

Que nossa penitência seja sempre a de esforçar-nos para melhorar e combater os nossos defeitos; e nossa promessa, a de trabalhar pelo semelhante para ajudar na harmonia do mundo. 

O resto é tempo perdido e pura ilusão.

A soberana proposta do Espiritismo é que lutemos pela nossa renovação. É esta a finalidade que nos traz de volta ao mundo material. 

Nada tem mérito se não for conquistado com o próprio esforço, porque cada virtude adquirida corresponde à superação de um defeito. 
Não se pode ser humilde e orgulhoso ao mesmo tempo. Imaginar que podemos comprar nossa reforma íntima com uma vela acesa, um buquê de flores ou uma penitência sem proveito é pura tolice. 
São os talismãs e patuás usados por espíritos atrasados.

Quem quer receber o bem, faça o bem. Não há outro caminho.



*Fonte: Espiritualista.

                                                           

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