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domingo, 19 de julho de 2015

SILÊNCIO PROATIVO

                                                                  
                                                                   


Em alguns templos religiosos, sobretudo em centros espíritas, encontramos uma frase grafada na parede: “O silêncio é uma prece”. 

Mas será, realmente, que o silêncio sempre pode ser considerado assim?

Certamente, o escopo daqueles que afixaram um quadro, ou pintaram, ou autorizaram a pintura dessa máxima em locais visíveis era o de convidar os frequentadores de uma reunião de exposição doutrinária e oração a se aquietarem para usufruir das benesses do ambiente, ouvindo com clareza as explanações científico-evangélicas e se conectando com o Criador e seus emissários. 

Por outro lado, torna-se inevitável concluir que o silêncio interior não se conquista por uma advertência exterior, mas sim, ao preço de muita dedicação e treinamento, porquanto é assim que se desenvolvem as virtudes. 
Isso é comprovado pelo fato de que, não raro, as pessoas estarem em silêncio aparente, mas intimamente podem estar esbravejando, agredindo, metralhando o próximo ao direcionar a este suas vibrações desequilibradas, ou mesmo permitindo o descontrole dos pensamentos, que deixam de focar naquilo que é mais importante em determinado momento. 
Logo, nem sempre o silêncio se mostra como uma oração, mas sim, como uma fuga ou, até mesmo, como uma agressão energética.

Conquanto cheguemos a tal conclusão, que obviamente não é definitiva, cumpre salientar que em muitos casos o ato de silenciar constitui a própria prática do Bem, ainda mais quando a pessoa se encontra diante de uma ofensa. 

É comum nas instituições de diversas ordens, seja profissional, acadêmica, religiosa, desportiva, etc., a ocorrência de discussões infrutíferas ou de meros insultos diretos ou mascarados (como se tapa com luva de pelica pudesse ser uma virtude, ao passo que jamais deixa de ser uma violência). 
Nestes casos, constatando-se a inutilidade de responder, a atitude silenciosa, arrimada na mansidão interiormente trabalhada, constitui verdadeira prática da caridade, em nada comparável com covardia ou passividade.

É sempre válido lembrar que não existe relacionamento interpessoal sem conflitos, tendo em vista que cada pessoa é um histórico espiritual próprio, com conquistas e deficiências, boas qualidades e más tendências por serem domadas, com culturas e ideais diversos, enfim. 

No entanto, ante ao conflito é sempre possível eleger uma conduta pacífica na busca do consenso, extraindo o aprendizado que a circunstância está a oferecer.

Pensando nisso, muitas pessoas silenciam diante de um problema, intentando agir com altruísmo, quando, em verdade, apenas estão se autoanulando intimamente ao permitirem que outrem lhe agrida moral e, em muitos casos, até fisicamente. 

O fato de somente silenciar não pode ser considerado um Bem, fazendo-se mister que juntamente com o silêncio a pessoa faça reflexões instantâneas sobre o que pretende com sua atitude e faça exercícios de humildar o orgulho, deixando de agir impulsivamente, eis que são inúmeros os seres humanos que todos os dias são diagnosticados com doenças, geralmente estomacais ou intestinais, pelo fato de se anularem passivamente perante aos fatos desagradáveis. 
Na realidade, o silêncio passivo constitui uma auto desvalorização emocional que não agrega valores para o próximo, que continuará agindo equivocadamente e adquirindo mais débitos conscienciais; tampouco para a própria pessoa, que deixa de viver seu potencial espiritual. Quem pratica o silêncio falso, isto é, o silêncio meramente exterior, está em total sintonia com o orgulho que ainda traz, acolhendo-o intensamente para apenas criar uma aparência de estar agindo pacificamente, quando, na verdade, está guerreando e se machucando por dentro.

Refletindo sobre tudo isso com o escritor Alírio de Cerqueira Filho, conclui-se ser plenamente possível optar por uma conduta salutar, fazendo o “silêncio proativo”. 

Para tanto, torna-se necessário aceitar que existe humildade coexistindo com o orgulho ferido. Posteriormente, acolhe-se a humildade, experimentando suas sensações agradáveis e quanto ela faz bem para quem a pratica. 
Neste caso, a pessoa está sem falar para fora, mas está trabalhando-se interiormente para transformar o orgulho em humildade.

A atitude humilde e corajosa de dar a outra face vale mais do que milhões de palavras. 

É trabalhoso, certamente, mas não se conquistam as virtudes mais necessárias sem esforço para se promover a reforma íntima. 
Por essa razão, é imprescindível que cada um procure desenvolver o “silêncio proativo”, ou seja, fazer silêncio concomitante com um trabalho interior para expor a virtude para fora, tornando-se uma pessoa em paz com a consciência, convidando, com este exemplo, o próximo a também buscar se melhorar.

*Nestor Fernandes Fidelis - Diretor da Diretoria de Atendimento Espiritual da Federação Espírita do Estado de Mato Grosso. 
                                                                                          

             
                                                         


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